Este é um processo em que o jovem se procura e se experimenta, se confunde e, algumas vezes, se perde. É um momento difícil. Entretanto, com ajuda da família, da escola e de outros suportes disponíveis na comunidade, os adolescentes conseguem superá-lo com maior ou menor dificuldade.
Que dizer, todavia, dos jovens das camadas populares ante a esse desafio? Aqueles para quem escola é apenas uma lembrança ou – pela sua má qualidade – uma presença enfraquecida, incapaz de responder às suas verdadeiras necessidades e expectativas. Aqueles para quem a família já não é uma fonte de ajuda, mas, pelo contrário, um peso com o qual ele passa a ter a responsabilidade de arcar.
Como se dá a construção da identidade e a socialização desses jovens? À vulnerabilidade, resultante do abandono da escola ou de uma considerável defasagem idade/série, soma-se a fragilidade da família, a requerer seu ingresso precoce e despreparado – tanto em termos de escolarização, como de capacitação – num mundo do trabalho cada vez mais complexo, exigente e competitivo.
É claro que, nestas condições, o mais comum é que o trabalho encontrado seja bastante precário. O que sobra para esses adolescentes é o exercício de funções desqualificadas no mercado formal ou – o que é mais comum – o trabalho informal, sub-remunerado, abusivo e explorador.
Cláudia Jacinto (1995), da Rede Latino Americana de Educação e Trabalho, afirma que a construção da identidade social do adolescente no cotidiano passa por dois processos: um, biográfico, o outro, relacional.
O processo biográfico se constitui a partir da peripécia individual do jovem em sua relação com a família, a escola e o mercado de trabalho. Esse trajeto pessoal é que define, vamos dizer assim, a sua condição objetiva como ser social.
O processo relacional diz respeito à capacidade do adolescente de desempenhar os papéis, que dele se espera, nos diversos âmbitos da vida social e de, por meio dessa atuação, obter o reconhecimento por parte de si mesmo e pelos demais do seu valor como pessoa.
Família, escola e trabalho
Este trinômio emerge com ululante obviedade quando pensamos em dar respostas a estes jovens, seja por meio das políticas públicas ou da solidariedade social. Se observamos, porém, a trajetória das ações governamentais e os gestos solidários, que partem da sociedade, veremos que o óbvio não é tão óbvio assim. Na prática, é raríssimo encontrarmos iniciativas concretas, que articulem corretamente estas três dimensões essenciais de uma política para a juventude.
Os programas sociais, que atuam em face a essa questão, freqüentemente trabalham de costas para a escola, olhando a família pelo espelho retrovisor. A escola é considerada elitista, desfocada da realidade pessoal e social do educando, formalista, burocrática, fechada à articulação e à parceria com outros setores e tremendamente preconceituosa e defensiva em sua relação com os pobres mais pobres.
Os programas sociais, que atuam em face a essa questão, freqüentemente trabalham de costas para a escola, olhando a família pelo espelho retrovisor. A escola é considerada elitista, desfocada da realidade pessoal e social do educando, formalista, burocrática, fechada à articulação e à parceria com outros setores e tremendamente preconceituosa e defensiva em sua relação com os pobres mais pobres.
A família, por sua vez, é vista como quem já teve a sua chance de ajudar aquela vida a desenvolver-se e fracassou. Por isso, deve ser considerada sempre parte do problema e não parte da solução. O fato de ela depender, para subsistir, do trabalho de seus filhos, ainda em tenra idade, é visto como a prova cabal de sua desqualificação e da sua incapacidade.
É no contexto desta forma de enfocar a situação que se produz um certo tipo de resposta social perversa e irresponsável das políticas públicas e das entidades não-governamentais, no Brasil e em praticamente toda a América Latina. Em vez de ajudar a família, para a família ajudar o menino, vamos ajudar o menino, para que ele possa ajudar sua família. Essa maneira de ver, de entender e de agir inverteu a ordem natural das coisas e transformou o trabalho precoce, de problema, em solução.
É no contexto desta forma de enfocar a situação que se produz um certo tipo de resposta social perversa e irresponsável das políticas públicas e das entidades não-governamentais, no Brasil e em praticamente toda a América Latina. Em vez de ajudar a família, para a família ajudar o menino, vamos ajudar o menino, para que ele possa ajudar sua família. Essa maneira de ver, de entender e de agir inverteu a ordem natural das coisas e transformou o trabalho precoce, de problema, em solução.
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