A
presidenta Dilma Rousseff anunciou que, nos últimos anos, cerca de 22 milhões
de brasileiros superaram a miséria, como também, nos últimos dias, a redução dos impostos na cesta
básica, prolongamento da redução do IPI(Imposto Produto Industrializado). A economia cresce, os números podem estar certos, mas o conceito de superação está
errado. Superar é saltar, uma conotação muito diferente do que suspender provisoriamente
uma condição. Como também crescer é diferente de ser grande. O Brasil cresce, ou melhor sua economia cresce, mas, não é um país grande.
A realidade é que
22 milhões de brasileiros passaram a receber, a partir de 2011, o valor de R$
70 mensais por transferência de renda. Essas transferências representam um raro
gesto de generosidade da parcela rica para os pobres do Brasil.
É sabido que essa “generosidade” já estava presente no gesto do
governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, no regime militar, com a
criação da Previdência Social Rural/Prorural, em 1971. Podemos citar também a
criação da Bolsa-Escola no Distrito Federal e em Campinas, em 1995. A ampliação
deste programa, em 2001, pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, para 4
milhões de famílias beneficiadas, só fez crescer a generosidade.
Por outro lado, com
o controle da inflação, a estabilidade do Real e, consequentemente, com o
crescimento econômico do país, o presidente Lula foi quem deu o salto para 12
milhões de famílias, ao colocar o programa como centro de sua política social,
reunindo no Bolsa Família todos os programas de assistência social do governo
federal. A presidenta Dilma não apenas ampliou o número de beneficiados, como
complementou a rede de proteção social com os programas Brasil sem Miséria
(2011) e Brasil Carinhoso (2012).
Graças a isso, o
número de famílias em condições de penúria extrema, de desnutrição crônica,
diminuiu substancialmente nos últimos 20 anos.
Primeiro, cabe
observar que os 22 milhões de brasileiros que são apresentados como tendo
superado a miséria recebem R$ 70 por mês. Isso equivale a R$ 2,34 por dia para
uma família de cinco pessoas ou 1,4 pão por dia para cada um dos membros. Não
são mais os retirantes que a fome expulsava de suas terras por comida, mas
ainda não é possível afirmar que saíram da miséria.
Bastaria uma
inflação de 8% ao ano para que, em quatro anos, os atuais R$ 70, sem reajuste,
passassem a valer R$ 51,45, o que não compraria nem mesmo um pão por dia para
cada membro da família.
Segundo, é grave a
ilusão de que a miséria pode ser superada sem se assegurar a estrutura que
permita o salto sem volta. Mesmo com a renda do Bolsa Família, os beneficiados
permanecerão na mesma situação social. Continuarão sendo cidadãos sem educação,
sem esgoto, sem água potável e sem condições de empregabilidade. Isso não é
superação.
Terceiro, apesar de
mitigar o sofrimento, o programa Bolsa Família não abre a porta de saída da
extrema pobreza, não abole a miséria nem provoca um salto social sem
retrocesso. Embora o governo não informe, há grande possibilidade de que alguns
dos atuais pais beneficiados pelo Bolsa Família tenham sido crianças de
famílias com a bolsa.
Cria-se um círculo
que nega totalmente o conceito de superação aplicado aos resultados obtidos.
Prova disso é que o governo comemora o aumento do número dos que recebem o
Bolsa Família. Não comemora, no entanto, a redução do número dos que necessitam
da transferência de renda do governo para compensar o que a estrutura social e
econômica não faz para superar a miséria de forma sustentável, com mudanças
estruturais e escola de qualidade para todas as crianças.
Ao dizer que houve
superação da miséria, a presidenta corrompe o dicionário. Cria a ilusão que
pode acomodar o espírito de solidariedade transformadora de que o país precisa.
Todos sonham com a superação da miséria, não com o conceito de superação
empobrecido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário